terça-feira, 19 de março de 2013

Contos Encantados... para quem aprecia a sensibilidade das histórias...

A fala e a dança das flores.

Foi que uma florzinha  do campo veio para a cidade. E viu uma flor cor-de-rosa muita bonita dentro de um vaso. Toda aberta. As pétalas aveludadas e cheirosas. De longe se sentia o cheiro. Era perfume de rosa.

Aí a flor caipira, vinda da roça, desejou ser como aquela rosa cheirosa.Formosa.Vaidosa. Então falou:


-Vamos trocar? Eu fico onde você está e você fica no meu lugar de flor do mato.


A flor cheirosa respondeu:


-Vamos. Eu troco.


E fechou as pétalas para tornar a virar botão. Chamou a flor matuta e pediu a ela para entrar no vaso, no seu lugar. A flor jeca entrou.


Tinha um passarinho azul, de cabeça vermelha, que cantava na gaiola. O passarinho cantou tanto, mas tanto, que as pétalas amarelinhas da flor do mato se abriram. E a flor cheirosa, que tinha ficado botão, espreguiçou-se e tornou a abrir as pétalas.


Ela estava muito feliz porque tinha dado seu lugar à outra flor. Por isso ficou ainda mais viçosa. E muito mais cheirosa.


Outro passarinho - era um beija-flor - veio e beijou com a ponta do bico o mel das duas flores.


Foi quando a flor do mato e a flor cor-de-rosa começaram a dançar a dança das flores.É uma dança que as flores dançam, quando os pássaros cantam e quando o vento sopra nas pétalas e nas folhas. O vento também sabe dançar: é um bailarino que a gente não vê, mas ele vive dançando, cantando e rodopiando com as folhas que caem.


Quando foi um dia, a rosa cheirosa foi colhida e plantada de novo, com suas raízes e folhas, num vaso marajoara. Sabe o que é um vaso marajoara?

Bem. Agora, adivinhe para onde ela foi levada? Justamente: para a mesma janela onde a flor do mato estava. Então as duas ficaram conversando na língua das flores.

As flores contam casos de pólen, de corolas, de folhas e espinhos.


As flores sabem muitas histórias. Contam do sol - quando a terra seca e as plantas têm sede. Contam do outono - quando as folhas caem, o vento rodopia e assobia poe entre os galhos. E contam do inverno - quando tudo esfria e as árvores ficam tristes.

Mas sempre que os dias ficam bons, que a brisa passa, como agorinha mesmo está passando, as flores dançam. Como as duas estão dançando o bailado que as flores sabem dançar. É um bailado colorido, que fica perfumado quando a primavera chega. A primavera chega como a madrinha das flores. Aí as flores se abrem, as pétalas batem palmas.

Repare: quando as flores falam, a gente sente perfume.


Não era bom a gente também falar assim?


Jorge Medauar - Contos Encantados - Editora Edicon - 1985
 

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Neste primeiro texto, gostaríamos de falar sobre a criatividade.
Muitos de nossos clientes de assinatura de flores (para quem ainda não conhece, é a troca de arranjos de flores naturais semanalmente nas empresas e residências) nos perguntam como conseguimos a cada semana superar nossa criatividade trazendo um arranjo diferente do outro sem perder a qualidade.
É importante lembrar que fazer um arranjo de flores não é só colocar as flores dentro de um vaso ou espetá-las em uma espuma floral. Afinal, este é o desafio do artista floral, que precisa estudar e se atualizar permanentemente exatamente para surpreender seus clientes a cada semana, a cada novo arranjo, equilibrando novidade com sensibilidade, criatividade com tendências, harmonia com personalização.Toda pessoa é criativa por natureza, o que é preciso é colocá-la em prática, lembrando que talento e conhecimento andam juntos. Conseguimos criar um arranjo novo a cada semana sem perder a qualidade porque primeiramente dominamos a técnica. Sabemos quais são os tipos de arranjos, como por exemplo, um arranjo simétrico, assimétrico, vegetativo, um buquê em espiral, entre outros. Conhecemos a hierarquia das flores. A importância do uso das cores para que o arranjo fique em harmonia com ele mesmo , com o vaso e com o ambiente onde será colocado. Também nos permitimos errar, cuidando para que o nosso olhar muito crítico não nos coloque para baixo, nos impedindo de realizar.E, por fim, o que nos ajuda de verdade a criar é a confiança e liberdade que nossos clientes têm no nosso trabalho. Afinal, as flores falam por si. Cabe a nós saber organizar o que elas dizem, com intuição, emoção e a nossa voz interior. 

Como dizia o grande Pablo Picasso: “Não devemos ter medo de inventar seja o que for. Tudo o que existe em nós existe também na natureza, pois, fazemos parte dela.” Criar é tentar. Se ficar sentado esperando a inspiração
chegar nada vai acontecer. Acredite: a energia vem do movimento.
Flor da Pera!